

Ana Vieira
A reflexão em torno do corpo e do espaço, ou a desconstrução dos mecanismos de consagração e receção da arte, são problemáticas transversais ao conjunto da obra de Ana Vieira. O seu percurso revela uma complexidade disciplinar e uma poética que cruza o teatro, a pintura, a escultura, a fotografia, o som, o ambiente ou a instalação.
Os títulos das suas exposições, que realiza a partir de 1968, descrevem a natureza do trabalho apresentado. Imagens Ausentes ou Ambiente exploram dicotomias como público/privado, presença/ausência, interior/exterior ou transparência/opacidade. Numa sala de jantar, pratos, talheres, copos encontram-se rigorosamente organizados sobre uma mesa, rodeada de cadeiras. O público ouve e entrevê o ambiente familiar que lhe é vedado, expectante de uma ação que jamais se desenvolve. Uma rede garante a inacessibilidade da obra, encenação do constrangimento afeto à experiência comum do público de arte.
Da silhueta recortada, ao contorno projetado, ao objeto escondido, à sala revelada, ao corredor percorrido, à casa desejada ou ao vulcão atravessado, as cenografias de Ana Vieira viajam da galeria para o espaço público e até à paisagem natural dos Açores, onde passou a sua infância, numa escala progressivamente dimensionada para nelas se inscreverem os nossos corpos, sucessivamente convidados a percorrê-las e habitá-las.