maria jose oliveira e um oceano

Maria José Oliveira

Lisboa, 1943

O trabalho de Maria José Oliveira desenvolveu-se primeiro em cerâmica, alargando-se depois ao desenho, colagem, joalharia, escultura ou instalação, destacando-se sempre a sua dupla atenção à natureza e ao corpo enquanto conceitos, matérias, suportes e modelos.

A maioria das suas obras são compostas a partir de materiais naturais e orgânicos, dos quais vários impermanentes ou degradáveis, como café, resíduos vegetais, terra, leite, folhas e caules secos, ovos, resina vegetal, pedras, massa de pão, cinza de forno de padeiro, cal, argila crua ou cozida, parafina, ferro oxidado ou papel feito à mão. A paleta dos trabalhos é reduzida e sóbria, variando entre as cores neutras e os ocres vermelhos e dourados, o último acentuado pela aplicação pontual da folha de ouro. Cada material assume um determinado valor simbólico e esotérico no conjunto, que se formaliza a partir de ações e práticas performativas e ritualísticas como rasgar, ligar, cozer, tecer, juntar, abrir, cortar ou secar.

Modelados no corpo, modelos para o corpo, marcados pelo corpo, próteses do corpo ou simulacro de partes do corpo, os objetos preciosos e quase místicos de Maria José Oliveira são tão excêntricos, irregulares e imperfeitos como o próprio corpo.

Lígia Afonso
[Plano Nacional das Artes e Fundação Calouste Gulbenkian]
Curadora, professora e investigadora nascida em Lisboa em 1981
Texto originalmente escrito para a plataforma Google Arts & Culture a propósito da exposição “Tudo o Que Eu Quero, Artistas Portuguesas de 1900 a 2020”, comissariada por Helena de Freitas e Bruno Marchand