Armanda Duarte E um Oceano

Armanda Duarte

Praia do Ribatejo, 1961
Vive e trabalha em Lisboa

A especificidade do lugar é de tal forma determinante no trabalho de Armanda Duarte que as suas propostas artísticas são realizadas em função da sua observação e análise. A artista observa as características e detalhes de cada um desses contextos para encontrar a essência a partir da qual conduzirá o processo de criação até ao momento de recepção da obra. A sua poética espacial integra o desenho, a escultura, a instalação e a arquitetura, provocando experiências subtis e intimistas.

Duarte produz encenações despojadas, austeras e delicadas, que resultam de ações de manipulação e composição de objetos quotidianos como pedras, talheres ou tampas de latas de conserva, de acordo com objetivos precisos como medir, equilibrar, replicar. No seu trabalho, objetos e gestos simples são sujeitos a processos repetitivos e sistemáticos, quase científicos, que implicam a conceptualização da ação, a definição de critérios de pesquisa, a normalização de procedimentos de recolha e a edição rigorosa.

O intenso labor de Duarte apresenta um resultado aparentemente improdutivo, silencioso, discreto, por vezes quase impercetível ou mesmo microscópico, como as marcas de pés e joelhos em pó de madeira que testemunham, no chão e longe do olhar do público, o lento desaparecimento de um objeto e o aparecimento do corpo que o faz desaparecer.

Lígia Afonso
[Plano Nacional das Artes e Fundação Calouste Gulbenkian]
Curadora, professora e investigadora nascida em Lisboa em 1981
Texto escrito para a plataforma Google Arts & Culture a propósito da exposição “Tudo o Que Eu Quero, Artistas Portuguesas de 1900 a 2020”, comissariada por Helena de Freitas e Bruno Marchand