Rodrigues
Aurélia de Sousa
A artista nasceu no Chile, mas viveu depois no Porto, em Portugal, na Quinta da China, casa setecentista situada nas margens do Douro, que se tornará ambiente e atelier para a produção de inúmeras pinturas e fotografias. Interiores intimistas, retratos, cenas do quotidiano doméstico, jardins, naturezas-mortas, flores ou vistas sobre o rio são temáticas recorrentes do seu trabalho, que se caracteriza por um naturalismo expressivo.
A morte prematura do pai intensifica a experiência do feminino numa família maioritariamente constituída por mulheres, várias das quais, incluindo Aurélia, não casarão nem abandonarão a casa materna. A reflexão sobre a condição da mulher na viragem para o século XX e no quadro da sociedade do Porto, onde vive, ou de Paris, onde ingressa na Académie Julian já com cerca de 30 anos, é a chave para a compreensão da sua obra, que foi tardiamente reconhecida pela História da Arte Portuguesa.
Os seus enigmáticos, andróginos e provocadores autorretratos, nos quais se representa com um icónico casaco vermelho, um desproporcional laço negro ou travestida de Santo António, constituem uma histórica manifestação de afirmação autoral protagonizada por uma artista mulher.