Lourdes Castro e um oceano

Lourdes Castro

Funchal, 1930 – Funchal, 2022

A artista vive em Paris a partir de 1958 onde, em parceria com René Bértholo, António Costa Pinheiro, Gonçalo Duarte, José Escada e João Vieira, outros jovens artistas portugueses ali culturalmente exilados, funda a revista KWY, que contará também com a colaboração de Christo e Jan Voss. Criará constantemente outros livros e álbuns, ensaiando livremente géneros, formatos, suportes e técnicas.

O gosto pelas letras, a poesia e a tipografia está também patente nos altos ou baixos-relevos realizados pela artista, resultantes da montagem, colagem e pintura de objetos quotidianos e domésticos em caixas. A captura, projeção e traçado do contorno da sombra de objetos, mas sobretudo de plantas e amigos, tornar-se-á matriz fundamental do seu trabalho. Pintadas sobre tela, bordadas em lençol ou recortadas em acrílico, as sombras transladadas permitem tornar uma ausência presente, como um duplo que reencarna o original.

“É o mínimo que posso ter de uma pessoa”, dirá a artista. Fantasmáticas, flutuantes e transparentes, as figuras beijam-se, fumam e dormem, da mesma maneira que o Teatro de Sombras revela a artista no cumprimento de tarefas banais. Em 1983 volta, com o artista Manuel Zimbro, para a Madeira, ilha onde nasceu em 1930, vivendo até à sua morte na casa cujo jardim dizia ser a sua tela.

Lígia Afonso
[Plano Nacional das Artes e Fundação Calouste Gulbenkian]
Curadora, professora e investigadora nascida em Lisboa em 1981
Texto escrito para a plataforma Google Arts & Culture a propósito da exposição “Tudo o Que Eu Quero, Artistas Portuguesas de 1900 a 2020”, comissariada por Helena de Freitas e Bruno Marchand