Lea Managil e um oceano Samuel Duarte

Lea Managil

Lisboa, 1991
Vive e trabalha em Lisboa

A artista explica que quer com o seu trabalho “criar uma relação de empatia” com quem observa, com o público. Através de instalações e objetos trágico-cómicos, que criam narrativas, ambiências e paisagens no espaço expositivo, Lea Managil quer falar do que é andar com uma nuvem negra em cima da cabeça, ou seja, da melancolia e frustração que carregamos por estes dias.

Pelas exposições de Managil, espetadoras peripatéticas podem deambular por entre objetos e máquinas absurdas de organização de vida. Um armário que guarda a chuva lá dentro, sapatos que respiram, nuvens que de vez em quando largam água, e por isso de forma temporária colocamos toalhas e alguidares para resolver o problema. A sua escultura e os seus objetos parecem vivos, como órgãos artificiais – um nariz, um dedo, um pulmão, um coração – a viver fora do corpo. Maneiras de resolver uma situação, apaziguar o problema. Quem observa pode escorregar pela metáfora a fora, mas a artista dá-nos o suficiente para nos agarrarmos a tanta coisa.

Lea Managil entrou no Conservatório para canto ainda estava no secundário. Os quatro anos de conservatório acabaram por coincidir com os anos de Belas-Artes, no curso de Pintura. Estes anos de experimentação, que passaram também por um ano numa pós-graduação em performance e música na Universidade de Aveiro, começaram a definir o seu caminho. Descobriu que o sistema da música clássica não iria dar espaço a outras artes, e era demasiado exigente e fechado. Descobriu que não gostava de pintar, queria cruzar outras disciplinas e suportes acima de tudo, perceber o que era o seu trabalho.

Se no início, as suas peças tocavam em algumas ideias de matéria sonora, no decorrer da evolução rapidamente nos apercebemos que as ideias que se relacionam com o som são apenas uma das componentes da escultura, objecto muitas vezes animado que se apresenta ao espetador. E esses sons são de origem quotidiana, são sons no espaço da casa, referências da artista e com as quais o público também se pode relacionar com facilidade. O barulho que parece estar dentro da nossa cabeça quando o dedo coça o crânio, os sapatos que respiram enquanto andamos de um lado para o outro, a água que ouvimos cair que deve vir da cozinha ou da casa de banho, o som dentro dos ouvidos quando deitamos a cabeça na almofada.

Susana Pomba
Curadora e editora nascida em Lisboa em 1974
Retrato
Cortesia da Artista © Samuel Duarte