Almeida
Graça Morais
A atmosfera e a mitologia rural do nordeste transmontano estão enraizadas na obra e na vida de Graça Morais. Trabalha entre o atelier de Lisboa e o do Vieiro-Freixiel, aldeia do norte de Portugal onde nasce em 1948 e lugar das gentes cujas histórias se misturam com as dos personagens, sobretudo femininos, que habitam os seus desenhos e pinturas, e que se confundem, por sua vez, consigo própria: “Estou sempre a falar da minha história”, afirma.
A sua infância campestre alimentou um imaginário fantástico, repleto de cães, gatos, cabritos, flores e marmeleiros, mas também de medo do escuro, dos lobos, do piar da coruja, da violência dos homens e da adversidade da natureza.
“Chego mais depressa às coisas pelo desenho”, diz, e desenha vigorosamente, em telas de grande formato ou em íntimos cadernos diários, coreografias míticas e trágicas que sobrepõem os segredos de mulheres trabalhadoras, o movimento agitado dos bichos, os ciclos que transformam espantosamente a natureza e as cabeças que contêm aldeias inteiras lá dentro. Mas também “um mundo transfigurado” em barbárie, com o drama da guerra e do êxodo dos refugiados a fazer sobressair a “coragem de pessoas que vão ao inferno buscar outras”.