Morais
Bárbara Bulhão
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“Água Temperamental”, a sua primeira individual em Lisboa, na Zaratan (2018), tornou-se uma exposição charneira no seu corpo de trabalho, já que muitas das obras apresentadas afinaram as intenções da artista em utilizar a sua experiência emocional, o seu estado de espírito, e claro a sua própria biografia para confrontar o espetador. Exemplos disso são as obras, “Um canto para chorar” (2018), uma escultura de canto feita com sal, ou “Cura” (2018), uma série de copos de “águas” coloridas (com o remédio Betadine, por exemplo) trazidas de locais precisos relacionados com a biografia da artista, por onde passou: água do Alentejo, da casa da artista, do seu atelier, da escola. Águas carregadas de significado e biografia que são águas do mar, do rio, da torneira, e da fonte.
A Escola Artística António Arroio, continua a ter, de geração em geração, uma grande importância nas primeiras experimentações no domínio da expressão artística. Assim aconteceu com Bulhão, que aí percebeu o seu gosto pela disciplina da escultura, através de primeiros ensaios em joalharia. Depois disso, a sua formação artística foi uma trilogia de experiências bem diferentes e quase opostas entre si. Voltou a Évora, onde a licenciatura em escultura (Escola de Artes da Universidade de Évora, 2013) foi feita numa escola aberta à materialidade, e onde o espaço de atelier apresentava condições excepcionais para trabalhar a grande escala. De regresso a Lisboa, o mestrado é feito nas Belas-Artes (2015), onde o Convento de São Francisco é conhecido pela escassez de espaço de trabalho para os alunos. Para rematar estas experiências tão diversas, especialmente a quem dê predileção pela escultura, a formação terminou com uma passagem pelo Independent Study Programme da Escola Maumaus (2016), dominado pela filosofia, estética, e por problemáticas atuais.
A formação de Bulhão, um vaivém entre as condições do espaço físico e o domínio, ou não, de um cariz mais filosófico ou histórico, teve consequências positivas na sua prática de artista: tornou-a plural e com grande facilidade em navegar suportes e práticas, e dotou a sua obra de uma coluna vertebral que assume uma consciência social e política sem a separar de uma procura de maturidade emocional por dentro do mundo, individual e colectivo.