Sonia Almeida e um oceano

Sónia Almeida

Lisboa, 1978
Vive e trabalha em Boston

A artista questiona a ideia de pintura como sistema de linguagem, gesto decorativo ou processo conceptual. As suas pinturas apresentam cores intensas e vibrantes, aplicadas em manchas saturadas e em camadas ora opacas ora transparentes, explorando os limites da figuração e da abstração.

Desdobram-se também em tapeçarias, algumas das quais criadas pela impressão de imagens pixelizadas onde a imagem se confunde com a própria textura. O livro, enquanto forma, o texto, enquanto tecelagem ou estruturação de palavras, ou a letra, na sua expressividade formal ou singularidade fonética, surgem com frequência como tema e objeto.

Entre o analógico e o digital, Almeida referencia, entre outros, o Alfabeto Antropomórfico medieval, em que corpos contorcidos dão forma a letras; as Matrizes Progressivas de Raven, figuras usadas para testar o raciocínio analógico, a capacidade de abstração e a percepção; padrões gerados de falhas criadas por websites a partir de imagens digitais; ou técnicas e iconografias associadas ao feminino, ao delicado e ao bem-fazer.

As suas pinturas, realizadas a partir da utilização de materiais como contraplacado, dobradiças e luzes LED, montadas em mecanismos ou posicionamentos assimétricos, apresentam deslizamentos, desdobramentos, sobreposições e revelações, jogos de percepção e ilusão que permitem uma observação táctil e performativa, realizada a partir de múltiplos pontos de vista.

Lígia Afonso
[Plano Nacional das Artes e Fundação Calouste Gulbenkian]
Curadora, professora e investigadora nascida em Lisboa em 1981
Texto escrito para a plataforma Google Arts & Culture a propósito da exposição “Tudo o Que Eu Quero, Artistas Portuguesas de 1900 a 2020”, comissariada por Helena de Freitas e Bruno Marchand