Almeida
Sarah Affonso
Sarah Affonso passa a juventude em Viana do Castelo, norte de Portugal. As festividades, crenças e tradições do Minho, em particular as procissões, os arraiais, os bailes e os casamentos, tornam-se o pano de fundo de um imaginário idílico e quase mitológico onde, afirmava, “tudo são quadros à espera de pintores”. Affonso foi também marcada pela arte popular ali produzida, nomeadamente pelos brinquedos de figurado de Barcelos cuja representação integrava nas pinturas.
De cores vivas e vibrantes, as suas obras, alegóricas e aparentemente ingénuas, são modernistas no tema, nas referências, na síntese das formas, no recorte das figuras e no rigor da composição. Intuitivamente etnográfico, o seu olhar interessa-se pelo primordial rural, pelos rituais dos pescadores, pela ocupação das mulheres e crianças, e desenvolve-se em desenho, bordado e cerâmica, mesmo com o abrandamento da produção da pintura após o seu casamento, em 1934, com Almada Negreiros.
O retrato íntimo – de si, dos filhos, dos netos – assumirá uma enorme relevância no seu trabalho. Integrada num meio artístico essencialmente masculino, fará uma importante série de retratos dos amigos e companheiros de trabalho, numa linguagem formalmente sintética, mas com a densidade psicológica de quem entra “na pintura por emoção”.