Salette Tavares E Um Oceano

Salette Tavares

Maputo, Moçambique, 1922 – Lisboa, 1994

Salette Tavares foi uma artista erudita, interventiva e múltipla. Pioneira da performance, da poesia concreta, da poesia espacial e da arte conceptual, destacou-se como poeta, crítica, ensaísta, tradutora e performer, mas também como pedagoga, agitadora cultural e dirigente associativa. Autora de uma obra extensa, radical e provocadora, afirmou que “fabricar é o mais religioso serviço do homem”.

O seu trabalho explora as possibilidades de conjugação da escrita, imagem, página, corpo e espaço, resultando em objetos e poemas singulares que desafiam e subvertem as regras da linguagem. A exploração plástica, lúdica e paródica da palavra, tanto ao nível gráfico como fonético, e a transformação de objetos banais em experiências poéticas, estão na base de um experimentalismo formal e comunicacional que se encontrou com a instalação, a tipografia, a serigrafia, a gravura, o bordado ou a tapeçaria.

“Trago a minha infância pela mão”, dirá para justificar a persistência do humor, do jogo, da brincadeira, da transgressão e da experimentação como um “estado natural e permanente” do seu trabalho. Partindo da sua condição de artista-mulher-mãe, os “diálogos criativos” que primeiro estabelece com a família testam a percepção criativa e convocam a participação ativa do público.

Lígia Afonso
[Plano Nacional das Artes e Fundação Calouste Gulbenkian]
Curadora, professora e investigadora nascida em Lisboa em 1981
Texto originalmente escrito para a plataforma Google Arts & Culture a propósito da exposição “Tudo o Que Eu Quero, Artistas Portuguesas de 1900 a 2020”, comissariada por Helena de Freitas e Bruno Marchand
Retrato
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