ofelia marques e um oceano

Ofélia Marques

Lisboa, 1902 – Lisboa, 1952

Nascida no início do século XX e autodidata nas artes visuais, Ofélia Marques integra o movimento modernista português e acompanha de perto os seus desenvolvimentos internacionais ao lado de Bernardo Marques, companheiro durante uma parte significativa do seu percurso.

Sendo essencialmente reconhecida pelo trabalho em pintura, foi no desenho que a sua prática se mostrou mais inovadora. Colaborou com a imprensa periódica, ilustrou livros e criou bandas-desenhadas infantis, género em que foi precursora. Será, no entanto, nos seus múltiplos autorretratos psicológicos e na série de retratos dos amigos, artistas e escritores caricaturalmente imaginados enquanto crianças, que o seu trabalho adquire uma maior consistência técnica e reflexiva.

A sua obra erótica, só postumamente apresentada, virá mesmo revelar uma faceta mais transgressora, irreverente, cosmopolita e experimentalista do trabalho. A preto e branco ou em cromatismos expressivos, luminosos e contrastantes, em tinta-da-china, grafite, lápis de cera, pastel ou guache, Ofélia Marques testemunha cenas íntimas e homoeróticas femininas.

Captadas em luxuriantes ambientes de encontros sexuais, revelam, de forma subtil e empática, relações de dominação e subjugação das quais a presença do gato surja talvez como metáfora.

Lígia Afonso
[Plano Nacional das Artes e Fundação Calouste Gulbenkian]
Curadora, professora e investigadora nascida em Lisboa em 1981
Texto originalmente escrito para a plataforma Google Arts & Culture a propósito da exposição "Tudo o Que Eu Quero, Artistas Portuguesas de 1900 a 2020", comissariada por Helena de Freitas e Bruno Marchand