
Marcelino
Pintora, ilustradora, desenhadora e gravadora, Mily Possoz desenvolveu parte do seu percurso formativo e artístico entre Lisboa, Dusseldorf, Bruxelas e, sobretudo, Paris. Apesar de toda a sua produção ser atravessada pela prática da pintura, caracterizada pelo uso de um colorido forte e sensualista, pela pincelada enérgica e solta e pela atmosfera poética dos temas, a sua obra será sobretudo notabilizada na gravura, e em particular na sua aplicação à ilustração e ao mercado editorial que lhe permitiu viver sempre do seu trabalho.
Foi membro fundador da sociedade Jeune Gravure Contemporaine, criada em Paris em 1929, integrou exposições coletivas de gravura onde se destacaram nomes como Cézanne, Matisse ou Picasso. Explorou as técnicas da ponta seca e da litografia, no âmbito das quais se deixou contaminar pela estética despojada e estilizada da gravura japonesa, patente, por exemplo, no desenho de gatos; mas também pela observação demorada da pintura flamenga e surrealista, visível na subtil distorção figurativa que caracterizaria naturezas-mortas, retratos e paisagens.
Destacam-se, na sua obra, os cenários citadinos cosmopolitas e os interiores domésticos burgueses secundarizados por homens, gatos e cães e protagonizados por figuras femininas em leitura, contemplação, descanso, lazer e confraternização, mulheres modernas, emancipadas, independentes e intelectuais como a própria Mily.