Hatherly
Menez
Autodidata, Menez pinta como aprendeu: sozinha e em viagem. A sua obra é um solilóquio, uma enigmática e eterna conversa consigo mesma que o observador pode contemplar sem, no entanto, nunca verdadeiramente decifrar.
A sua pintura cedo transita da abstração para a figuração. Cria ambientes que são complexas narrativas em abismo, espaços que se desmultiplicam em outros espaços através da evocação sucessiva de portas atrás de portas ou de quadros dentro do quadro. Esses lugares de reflexão, introspeção, leitura e trabalho, e em particular o atelier, são o epicentro e objeto da pintura.
A construção pictórica desses cenários é rigorosa e programática, estabelecendo-se a partir de grelhas geométricas e abstratas que demarcam e organizam planos, perspetivas e volumetrias. A figura humana, quase sempre feminina, solitária e melancólica, é introduzida como modelo, como reflexo no espelho ou como sujeito da própria pintura que é ali mesmo pintada. A gestualidade das mãos e rostos representados adensa a teatralidade e a intimidade das cenas, cujo ponto de fuga se encontra, muitas vezes, no exterior.
A pintura erudita e metafísica de Menez evoca uma atmosfera onírica e entorpecida, uma interioridade só sua que é silenciosamente modelada, em inúmeras camadas, gradações e variações tonais, pela qualidade diáfana da cor e da luz.