Melissa Rodrigues e um oceano Pedro Ferreira

Melissa Rodrigues

Praia, Cabo Verde, 1985
Vive e trabalha entre Lisboa e Porto

O trabalho artístico de Melissa Rodrigues, que também é curadora, arte-educadora e activista, incide principalmente sobre as representações, imagens e experiências do corpo negro, tocando em questões como a memória colonial, racismo, sexismo e objectificação dos corpos, e nos momentos de partilha para com os seus – pessoas da periferia – numa criação por vezes colectiva de resistência e auto-identidade, dando lugar a novas narrativas.

Segundo a artista, é impossível dissociar produção artística, activismo e educação, e interessa-lhe o poder mover-se entre campos, afirmando: “Interessa-me muito pensar a educação, a arte, a arte-educação e o activismo para aquelas e aqueles que são como eu era quando era criança (…). Está tudo ligado. E nesta diluição de fronteiras, sinto-me à vontade para caminhar entre uma coisa e outra, entre ser activista, arte-educadora, artista, e performer”

A preferência pela performance surge cedo, durante os anos em que estuda dança no c.e.m. (Centro em Movimento). Melissa Rodrigues diz sobre esse período: “De todas as linguagens que estava a descobrir nesse momento, aquela era a que me dizia mais alguma coisa (…). Eu sabia que queria fazer performance”. Com este suporte, a artista dá uso aos processos de pesquisa que aprendeu no seu percurso formativo. Após o ensino secundário e as artes performativas no c.e.m., obtém uma licenciatura em Antropologia (FCSH – UNL) e uma pós-graduação em Performance (FBAUP). O vídeo e o arquivo são também usados pela artista, que compõe assim narrativas críticas ao olhar branco – um olhar que sempre viu o seu corpo como objecto de estudo mesmo quando este corpo conduzia a investigação.

Para Melissa Rodrigues, o assumir-se artista é também o reclamar de um lugar político – o seu corpo é também um corpo produtor e pensador de arte, que passa não só pela produção artística, mas também pela curadoria – campo que lhe interessa bastante trabalhar enquanto mulher negra, permitindo assim mostrar um olhar que não seja uma repetição da visão do curador homem branco; e pela mediação/educação, trabalho que a artista vem desenvolvendo com várias entidades ao longo da última década.

Andreia C. Coutinho
Ilustradora, mediadora cultural, e activista curatorial do colectivo Faca. Nasceu em Lisboa em 1986
Retrato
© Pedro Ferreira