maria jose aguiar

Maria José Aguiar

Barcelos, 1948

Muito embora com visibilidade intermitente, o trabalho de Maria José Aguiar tem vindo a integrar episódios de releitura da produção contemporânea portuguesa levados a cabo nas últimas décadas. Esta inserção em grandes exposições temáticas tem valorizado a sua obra salientando-lhe o experimentalismo, a liberdade e irreverência, mas também destacando a sua importância precursora à luz das novas figurações dos anos setenta e dos estudos e discursos de género.

Ancorada na representação do corpo sexuado, manipulado, sobreposto e fragmentado em rigorosas composições formais, a pintura de Maria José Aguiar assume uma brutal pulsão erótica. Expressa-se politicamente contra uma visão moralizante e subjugada da mulher na representação do seu corpo e do seu desejo, usando a representação explícita do sexo e da genitália enquanto vocabulário crítico e simbólico.

O pénis protagonista esvazia-se progressivamente num código visual formal, originando um padrão gráfico e ornamental divertido e caricatural que se desenvolve e repete em cores puras e planas e em composições dinâmicas. A sua obra é irónica, desobediente e contestatária relativamente ao meio profundamente conservador, clerical e patriarcal em que se desenvolve, mas é também crítica da história da arte, citando e rasurando recorrentemente alguns dos seus autores masculinos dominantes.

Lígia Afonso
[Plano Nacional das Artes e Fundação Calouste Gulbenkian]
Curadora, professora e investigadora nascida em Lisboa em 1981
Texto originalmente escrito para a plataforma Google Arts & Culture a propósito da exposição “Tudo o Que Eu Quero, Artistas Portuguesas de 1900 a 2020”, comissariada por Helena de Freitas e Bruno Marchand