Maria Capelo e um oceano marta mateus

Maria Capelo

Lisboa, 1970
Vive e trabalha em Lisboa

Tomadas de lugares concretos do sul de Portugal, norte de Itália ou Estremadura Espanhola, as paisagens de Maria Capelo perseguem uma milenar e universal tradição paisagística. Em pintura ou desenho, o seu trabalho começa pela observação direta de sítios normalmente agrestes, nem totalmente ocupados, nem totalmente isolados. Essa observação é depois traduzida para as obras, num esforço de recomposição de uma experiência mais do que de reprodução de uma cena.

Austeras e áridas, as suas composições integram um vocabulário reduzido de elementos, composto de árvores e da pontual presença de ramos, arbustos, caminhos ou pedras. Através da retoma e reorganização destes elementos, tanto em relação ao ponto de vista, como da escala e da significação, constrói formas diferentes de expressar uma mesma ideia, fictícia e imaginada, de paisagem. A artista trabalha também com o registo fotográfico, enquanto prova documental que fixa a realidade, suporta a memória e revela os enigmas.

De pensamento rigoroso e labor paciente, a sua pintura convoca a aproximação do espectador à tela para descobrir uma aparente desordem vegetal e geológica e testemunhar a rememoração de acontecimentos fugazes, porque para Capelo, “tudo o que acontece na Terra deixa um vestígio na paisagem, e toda a atividade humana, seja ela política, cultural e económica, modela o lugar”.

Lígia Afonso
[Plano Nacional das Artes e Fundação Calouste Gulbenkian]
Curadora, professora e investigadora nascida em Lisboa em 1981
Texto originalmente escrito para a plataforma Google Arts & Culture a propósito da exposição “Tudo o Que Eu Quero, Artistas Portuguesas de 1900 a 2020”, comissariada por Helena de Freitas e Bruno Marchand
Retrato
© Marta Mateus