Leonor Antunes E um Oceano Nick Ash

Leonor Antunes

Lisboa, 1972
Vive e trabalha em Berlim

Uma das artistas portuguesas com maior projeção internacional do início do século XXI, a carreira de Leonor Antunes fez-se fora de Portugal (vive em Berlim desde 2005). É representada pelas mais importantes galerias do mundo ocidental, e a par e passo, grandes museus têm dedicado exposições individuais ao seu trabalho. Em 2019, representou Portugal na Bienal de Veneza.

“Não penso em termos de criar algo novo, em vez disso uso o passado como fonte para fazer ligações entre coisas. Mais do que tudo estou interessada na ideia de escultura per se (…)” (Frieze, 2012). A sua escultura utiliza materiais (cortiça, latão, borracha, cerâmica, corda, cabedal, madeira, lã, cobre, alumínio, ferro, aço, e vidro), formas, e objetos decorativos (tapetes, biombos, candeeiros, cordas e redes suspensas, e revestimentos de chão), evocando a história de autores (artistas, designers, arquitetas) que foram forças motrizes do Modernismo. O contexto, as tradições, os costumes, e a forma do espaço onde expõe interfere de igual modo nas escolhas e decisões tomadas. A instalação criada confronta o espectador que deambula com as definições e limites da escultura, sempre em relação a outras disciplinas como os arts & crafts e a arquitetura.

A ligação que Leonor Antunes estabelece com um espaço expositivo começa sempre pela medição desse mesmo espaço. É uma espécie de ação performativa, onde pode ser utilizado um metro, a própria mão, uma passada, ou o corpo inteiro, como unidade de medida. Os seus espaços têm malhas, grelhas, tramas. A historiadora Doris von Drathen, vê estas medições de Antunes como uma “ferramenta para agarrar o mundo” (Afterall, 2010).

Algumas vezes existe uma única enorme corda que organiza o espaço numa malha pelo tecto, e por onde todas as outras peças, algumas suspensas, vivem e são organizadas e moduladas pela artista. A malha criada pode ser a reprodução de uma já existente no espaço, ou parte de uma trama desenhada por outra artista. “Frequentemente refiro-me a edifícios públicos ou casas no meu trabalho; mas nunca documento estes lugares, só os meço. Este processo ajuda-me a delinear o trabalho que faço em termos de tamanho, peso, massa, e gravidade” (Frieze, 2012).

Numa instalação de Leonor Antunes, cada elemento que vemos nunca está isolado e só pode ser visto nas múltiplas relações que mantém com os outros. O display de peças, que pode incluir cordas e volumes suspensos, organizam e modificam o espaço, assim como a nossa maneira de o ver. Existem muitas vezes peças de chão, redes suspensas, ou paredes-biombo—esculturas que são maneiras de modificar, reconstruir, e dividir o lugar expositivo.

Susana Pomba
Curadora e editora nascida em Lisboa em 1974
Retrato
Cortesia da Artista © Nick Ash