joana rosa e um oceano

Joana Rosa

Lisboa, 1959

A artista desenvolve a sua obra a partir de doodles e scribbles, termos ingleses para rabisco, sarrabisco e gatafunho, que designam também a prática irrefletida de ações universais como “partir um fósforo entre os dentes, brincar com o pacotinho de açúcar vazio no café ou chupar e trincar uma caneta”.

Rosa executa desenhos de forma automática, privilegiando a forma em vez do conteúdo. Alguns desenhos revelam-se saturados, fantásticos e coloridos; outros, realizados a chumbo e grafite sobre papel vegetal, são monumentais e massivos. Os últimos, de um negro macerado, resultam de ações de sobreposição, ocultação e desocultação de camadas, que revelam, no corte em profundidade da matéria, formas mecânicas, escrituras íntimas e desenhos de outrem.

Os seus fragmentos são amarrotados, sobrepostos, agrafados e colados à parede no momento da montagem, numa espacialização de grande escala e fortemente performativa, marcada por uma experiência anterior como bailarina.

A uma abordagem interdisciplinar a artista juntou uma pulsão para colecionar classificar e catalogar objetos e escritos apropriados, assim criando um arquivo de ações e apontamentos que mapeiam o comportamento humano irrefletido.

Lígia Afonso
[Plano Nacional das Artes e Fundação Calouste Gulbenkian]
Curadora, professora e investigadora nascida em Lisboa em 1981
Texto escrito para a plataforma Google Arts & Culture a propósito da exposição “Tudo o Que Eu Quero, Artistas Portuguesas de 1900 a 2020”, comissariada por Helena de Freitas e Bruno Marchand