helena almeida e um oceano luis ramos

Helena Almeida

Lisboa, 1934 – Sintra, 2018

A obra de Helena Almeida começa por desconstruir a bidimensionalidade da pintura. Em 1969, quadros tridimensionais deixam entrever o lado oculto da tela, passando a apresentar um lado de cá e um lado de lá. O lado antes invisível revela agora a grade de sustentação do pano, cortina que tapa, destapa, cai e se enrola como as persianas da janela com que se confunde.

Ao vestir a tela, Almeida descobre a relação entre a pintura e o corpo da artista em performance, tipo de ação que se multiplicará e será fotograficamente registada por Artur Rosa, seu marido e “primeiro espectador”. Numa sequência de fotografias a preto e branco, Almeida pincela um enérgico azul, matéria pictórica que depois destaca e guarda no bolso.

Esconde-se ou revela-se ao espectador, o mesmo que interpela em “Sente-me, Ouve-me, Vê-me”, série que explora, em inúmeras variações, as impossibilidades sensoriais enunciadas.

Vestindo um “negro profundo agudo”, o seu corpo recortará telas fortemente arquitetónicas, arquitetura que limitará ao espaço do atelier, o mesmo lugar onde pousava para o seu pai, o escultor Leopoldo Almeida, enquanto menina, e onde estudou a capacidade de sedução de uma mulher que envelheceu e que ali mesmo reinventou a sua presença escultórica, atravessando a parede, afundando o pé, a mão ou o corpo inteiro no chão.

Lígia Afonso
[Plano Nacional das Artes e Fundação Calouste Gulbenkian]
Curadora, professora e investigadora nascida em Lisboa em 1981
Texto escrito para a plataforma Google Arts & Culture a propósito da exposição “Tudo o Que Eu Quero, Artistas Portuguesas de 1900 a 2020”, comissariada por Helena de Freitas e Bruno Marchand