José
Aguiar
A obra de Helena Almeida começa por desconstruir a bidimensionalidade da pintura. Em 1969, quadros tridimensionais deixam entrever o lado oculto da tela, passando a apresentar um lado de cá e um lado de lá. O lado antes invisível revela agora a grade de sustentação do pano, cortina que tapa, destapa, cai e se enrola como as persianas da janela com que se confunde.
Ao vestir a tela, Almeida descobre a relação entre a pintura e o corpo da artista em performance, tipo de ação que se multiplicará e será fotograficamente registada por Artur Rosa, seu marido e “primeiro espectador”. Numa sequência de fotografias a preto e branco, Almeida pincela um enérgico azul, matéria pictórica que depois destaca e guarda no bolso.
Esconde-se ou revela-se ao espectador, o mesmo que interpela em “Sente-me, Ouve-me, Vê-me”, série que explora, em inúmeras variações, as impossibilidades sensoriais enunciadas.
Vestindo um “negro profundo agudo”, o seu corpo recortará telas fortemente arquitetónicas, arquitetura que limitará ao espaço do atelier, o mesmo lugar onde pousava para o seu pai, o escultor Leopoldo Almeida, enquanto menina, e onde estudou a capacidade de sedução de uma mulher que envelheceu e que ali mesmo reinventou a sua presença escultórica, atravessando a parede, afundando o pé, a mão ou o corpo inteiro no chão.