Grada Kilomba e um oceano Ute Langkafe

Grada Kilomba

Lisboa, 1968
Vive e trabalha em Berlim

A pesquisa de Grada Kilomba cruza os estudos pós-coloniais, os estudos de género, o teatro e a literatura. A sua obra funde as linguagens artística e académica, utilizando indistintamente meios como o texto, o livro, a fotografia, o vídeo, a instalação, a encenação, a música, a conferência-performance. “Não estou interessada em trabalhar numa só disciplina; estou interessada em contar histórias”, afirma.

Artista da palavra, com raízes em Angola e São Tomé e Príncipe, parte de protocolos da cultura oral negra, contemporânea e ancestral, do continente às diásporas, para contar histórias de esclavagismo, colonialismo e racismo quotidiano. Ensaiando a mudança dos seus protagonistas e narradores habituais, traz as vozes e os corpos silenciados para o centro do discurso.

Transporta-nos, com a sua voz, para cenários digitais e futuristas, gráficos e minimalistas, de fundo negro ou branco, com iluminação, sonorização, texto e composição rigorosas, onde atores negros e a própria artista se movimentam e tomam a fala.

Através da encenação de textos fundadores como os mitos de Narciso e Eco ou a história da Escrava Anastácia, ou da leitura do seu livro Memórias de Plantação, Kilomba expõe a importância da consciencialização e desconstrução do racismo e das etapas necessárias ao seu processo: “negação, culpa, vergonha, reconhecimento e reparação”.

Lígia Afonso
[Plano Nacional das Artes e Fundação Calouste Gulbenkian]
Curadora, professora e investigadora nascida em Lisboa em 1981
Texto originalmente escrito para a plataforma Google Arts & Culture a propósito da exposição “Tudo o Que Eu Quero, Artistas Portuguesas de 1900 a 2020”, comissariada por Helena de Freitas e Bruno Marchand
Retrato
© Ute Langkafe