Filipa Cesar e um oceano susana pomba

Filipa César

Porto, 1975
Vive e trabalha em Berlim

A filmografia recente de Filipa César reflete sobre a história contemporânea de Portugal, em particular sobre as marcas e representações da ditadura, da opressão e do colonialismo. Examina a história dos acontecimentos políticos através da sua representação ideológica nos discursos e nas imagens, em particular daqueles que, produzidos como contraponto às narrativas oficiais, veicularam espaços de resistência e de liberdade.

Alguns dos seus filmes exploram aspetos ficcionais do cinema documental, debruçando-se sobre a dissidência e a invisibilidade dos corpos não normativos durante o regime politico autoritário e conservador que vigorou de 1933 a 1974, como nas histórias de passadores que ajudaram desertores e ativistas a fugir do país na fronteira de Melgaço ou de mulheres homossexuais que foram desterradas para um campo de trabalhos forçados em Castro Marim.

Filipa César investiga também a história da luta e do cinema de libertação na Guiné-Bissau, procurando dar visibilidade ao seu projeto emancipatório, anticolonial, coletivo, etnográfico e de vanguarda através da imersão nos seus arquivos visuais e sonoros.

Incorporando criticamente algumas das suas passagens em filmes-arquivo, criando as condições para o restauro das películas e garantindo a sua projeção e discussão em diferentes localidades, dentro e fora da Guiné, Filipa César procura reativar e reinterpretar no presente as utopias do passado.

Lígia Afonso
[Plano Nacional das Artes e Fundação Calouste Gulbenkian]
Curadora, professora e investigadora nascida em Lisboa em 1981
Texto originalmente escrito para a plataforma Google Arts & Culture a propósito da exposição “Tudo o Que Eu Quero, Artistas Portuguesas de 1900 a 2020”, comissariada por Helena de Freitas e Bruno Marchand
Retrato
© Susana Pomba