Managil
Ana Hatherly
O percurso vasto e múltiplo de Ana Hatherly desdobra-se entre as artes plásticas e a poesia, a televisão e a edição, o ensino e a investigação, a performance e a tradução. Dir-se-á, porém, que o seu trabalho começa sempre pela escrita, assumindo-se como uma escritora “que deriva para as artes visuais através da experimentação da palavra”; começando também, paradoxalmente, pela pintura, como uma pintora “que deriva para a literatura através da consciencialização dos laços que unem todas as artes”.
A fluidez disciplinar caracteriza o estudo e a experiência contínuos e mesclados da escrita de Hatherly, quer ela seja “dita, impressa, manuscrita”; arcaica, barroca, oriental; tese, ensaio, poema ou desenho. Escrituras-plásticas, desenhos-escritas, textos-imagem, manchas-signo, as suas obras resultam de um jogo infinito de manipulação da linguagem e da sua forma.
O trocadilho, a repetição, o código, o labirinto e a cópia são alguns dos recursos lúdicos usados pela “mão inteligente” e crítica da artista, gerando ambiguidade, conflito interpretativo, desvio de referência e alteração de sentido. São disso também exemplo os cartazes políticos arrancados às paredes após a revolução democrática portuguesa, cujo rasgar, colar e sobrepor confunde, transforma e liberta a própria mensagem revolucionária.